quarta-feira, 21 de maio de 2008

Comissão Européia propõe eliminar os subsídios à produção de etanol

Reforma, influenciada por disparada dos preços de alimentos, pode ajudar Brasil

ESTRASBURGO. A Comissão Européia, o braço executivo da União Européia (UE), apresentou ontem uma proposta de reforma do setor agrícola, que prevê uma drástica redução dos subsídios ao segmento, além do fim da ajuda à produção de biocombustíveis, o que beneficiaria países como o Brasil. A reforma da Política Agrícola Comum (PAC) será discutida pelos países membros da UE no segundo semestre. O texto definitivo deve ser votado em novembro.

A reforma, chamada de "exame médico", inclui medidas para aliviar a escassez de alimentos, como a supressão definitiva do descanso obrigatório da terra (de 10% da área total) e o fim da subvenção para o cultivo de matérias-primas para biocombustíveis. Os subsídios respondem pela maior parte do orçamento da PAC, que este ano é de 55,8 bilhões.

A disparada nos preços dos alimentos aumentou a pressão por uma mudança na PAC. Semana passada, o ministro de Finanças britânico, Alistair Darling, fez um apelo pela abertura do bloco aos produtos dos países em desenvolvimento.

- É uma possibilidade de modernizar, fortalecer e simplificar nossa PAC - disse a comissária de Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel, acrescentando que, assim, os agricultores poderão responder à crescente demanda por alimentos.

Agricultores que recebem mais de 5 mil por ano sofreriam um corte de 13% nos subsídios até 2013. Os que recebem mais de 300 mil, de 22%. Esses recursos, porém seriam desviados para projetos de desenvolvimento do campo.

Fonte: O Globo

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domingo, 18 de maio de 2008

Se um chinês comer um pouco mais por ano...

Abaixo há uma reportagem publicada no jornal O Globo de domingo (18 de maio) abordando o impacto que o aumento do consumo de carne pela população chinesa teria para o mundo. Muito interessante!

Se um chinês comer um pouco mais por ano...

Fabiana Ribeiro

...haverá efeitos na inflação, na segurança alimentar dos países e na desigualdade mundial, dizem especialistas

O que aconteceria no mundo se cada chinês aumentasse em 25% seu consumo anual de frango e porco? Um frango e oito quilos de suíno a mais na mesa de cada chinês por ano teriam efeitos nos preços da comida, na economia dos demais países, na segurança alimentar e na desigualdade mundial, alertam especialistas. É um cenário possível em cinco ou seis anos - que poderia ter efeitos agravados em caso de problemas climáticos ou acidentes naturais.

Nos cálculos de Mauro Lopes, especialista em agricultura da Fundação Getulio Vargas (FGV), para cada frango a mais consumido por habitante na China, por ano, serão necessários 5,6 milhões de toneladas de milho e 2,4 milhões de toneladas de soja. E cada oito quilos a mais de suínos na dieta anual dos chineses demandam 21,5 milhões de toneladas de milho e 7,8 milhões de toneladas de soja.

Mais proteínas e menos cereais na dieta
Soja, na opinião de Lopes, não é o problema. A questão é o milho: a China teria de importar os 27,1 milhões de toneladas extras do grão. As exportações anuais dos Estados Unidos são de cerca de 60 milhões de toneladas. Isto é: um aumento de consumo dessas proporções da China acarretaria uma explosão de preços do milho ou privação para muitos consumidores em outros países. Ou os dois cenários, prevê o especialista.

- Se somarmos o que Brasil e Argentina exportam, isso ainda não atenderia à demanda extra da China. Se o consumo de alimentos na China continuar crescendo, não haverá produto para todo mundo. O efeito é nos preços, que poderiam triplicar. Por isso, a taxa de crescimento populacional da China tem que cair. E é preciso fazer ajustes internos para que o país cresça até 6% ao ano (atualmente são cerca de 11%) - disse Lopes.

Estaria, então, o futuro do mercado de alimentos - e da crise - na mesa dos chineses? Para o professor da FGV, sim.

- A crise de alimentos está nas mãos da China, se ela não conseguir conter o desejo do povo de se alimentar mais e melhor. Aí não há cenário possível de se prever. As grandes movimentações populares na China partiram de escassez de alimentos. É uma questão política - explicou Lopes, frisando que petróleo e clima são fatores que contribuem para a crise. - Estamos no limite, com estoques baixos, que não atingem hoje 12,5% do consumo mundial. Se houver problema de clima, como começou a ocorrer com atraso no plantio de milho em Missouri, Iowa, Mississipi há uma semana, uma importação extra de seis milhões de toneladas seria a gota d'água que desencadearia elevação insuportável de preços. Mas a pergunta é: até que ponto os EUA suportarão a pressão mundial para que o país reveja a política de etanol?

O aumento de renda da população chinesa - rural e urbana - explica parte da crise dos alimentos. E a urbanização fortalece a alta do consumo, embora ainda seja de 39%, equivalente à taxa do Reino Unido em 1850 e à dos Estados Unidos em 1911. Ao trocar o campo pela cidade, boa parte busca empregos na indústria, que pagam mais. No entanto, esses trabalhadores urbanos se tornam consumidores de algo que não produzem mais: alimentos. E querem comer melhor: mais proteína animal, menos cereais.

- Com melhores salários, não é qualquer elevação dos preços que conterá o consumo de alimentos na China. E se alguém come mais, outro come menos - explicou Chico Menezes, do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

Na avaliação de Menezes, um aumento abrupto do consumo na China teria força para espalhar fome nos quatro cantos do mundo:

- Esse aumento de consumo pode tornar vulneráveis regiões que não cuidaram de seu auto-abastecimento, como países da África, Honduras, El Salvador, Haiti e México. E, com isso, a questão da segurança alimentar está ameaçada especialmente nesses países: mais gente pode comer menos e pior. Menos comida, preços ainda mais altos. Uma equação que levaria o mundo a aumentar a desigualdade.

Os especialistas se dividem, no entanto, na hora de refletir sobre as possíveis saídas para o problema. Segundo Menezes, não há soluções globais:

- Frente a um consumo desse porte, os governos terão de resolver seus problemas de forma independente. Restrições como a da Argentina com o trigo (veto à exportação) podem se multiplicar.

Para Pierre Vilela, analista da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, o fim dos subsídios agrícolas especialmente em Europa e EUA, que mexem artificialmente nos preços, e um livre comércio é uma das saídas à crise dos alimentos e ao aumento de consumo na China - e ainda em Índia e Rússia.

Na China, oportunidade para o agronegócio brasileiro
Ricardo da Cotta, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), pondera que um salto de 25% no consumo de frango e suínos não se dá de um ano para o outro. E que, por isso, o mundo tem como se preparar para abastecer a China. Os países terão que produzir mais e ter uma maior produtividade. Nesse contexto, o Brasil sai à frente - com terra, água e capacidade de aumentar a produção.

- A fome na China é uma excelente oportunidade para o agronegócio brasileiro.

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